A Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou, em votação simbólica, nesta quarta-feira (17), uma moção relacionada ao ocorrido, no dia 9 de setembro, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), quando uma palestra sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) deixou de ser realizada no prédio da UFPR na praça Santos Andrade. A moção aprovada declarou apoio à Polícia Militar do Paraná, que se envolveu no incidente (416.00044.2025).
Na noite de 9 de setembro, manifestantes protestaram contra a realização da palestra “O STF e a interpretação constitucional”, no Salão Nobre do curso de Direito, que teria a participação dos vereadores Guilherme Kilter e Rodrigo Marcial, do Novo, e do advogado Jeffrey Chiquini. Em razão da oposição ao evento, a palestra não foi realizada, apesar de os palestrantes terem ingressado no prédio histórico da UFPR. Diante do tumulto no curso de Direito da UFPR, a Polícia Militar do Paraná foi acionada, penetrou no edifício e, na dispersão dos envolvidos, houve confronto.
A Polícia Militar nos resgatou, diz Guilherme Kilter sobre ocorrido na UFPR
“Fomos empurrados até a sala dos professores, onde ficamos mais de 30 minutos trancados, porque a Polícia Militar teve que negociar com os alunos para eles nos liberarem de lá, mas não liberaram. A gente não podia sair”, relatou Guilherme Kilter, ao abrir o debate na tribuna da CMC. “A Polícia precisou entrar [na UFPR para] nos resgatar. Se fosse um ambiente democrático, não precisaria a Polícia entrar”, continuou o vereador, que assina as duas moções. Ele parabenizou o Coronel Sampaio, comandante do 33º Batalhão da PMPR, pela operação.

“A Polícia Militar é uma instituição séria, com homens e mulheres que fazem um trabalho sério, que dão suas vidas, que muitas vezes não querem partir para o confronto, tentam fazer um plano de negociação”, opinou Pier Petruzziello (PP), que assina a moção de apoio à corporação com Kilter. “Eu fiquei muito assustado quando vi vereadores dessa Casa e deputados estaduais criticando a Polícia Militar. A moção é para defender a PMPR”, opinou o parlamentar.
Egresso da UFPR, onde cursou Direito, Rodrigo Marcial foi convidado para mediar a conversa entre Kilter e Chiquini. “Nos 15 anos desde que entrei naquela faculdade, eu nunca vi algo parecido com o que aconteceu na terça-feira. Sempre houve debates ideológicos e até polêmicos, mas jamais esse nível de violência e intimidação”, disse o parlamentar, que é coautor da moção de apoio aprovada na Câmara de Curitiba. “Um aluno da faculdade de Direito levou um tapa no rosto e teve o celular roubado antes mesmo da palestra começar. Isso é absolutamente inaceitável e expõe o grau de violência política que estamos vivendo”, criticou.
Nota oficial da UFPR foi questionada por vereadores de Curitiba
Referindo-se à nota oficial da UFPR sobre o ocorrido, onde se atribuiu “uso de força desproporcional” à PMPR, Guilherme Kilter alegou que “não teve uso desproporcional de força, coisa nenhuma!”. “[Eles, a Polícia Militar] entraram para nos proteger, porque estavam sendo agredidos”, afirmou o vereador. Em apartes, Eder Borges (PL) comparou o caso ao assassinato do influencer de direita Charlie Kirk e disse que “nós sabemos que a universidade pública brasileira é uma fábrica de militantes, de idiotas e delinquentes”.
A vereadora Carlise Kwiatkowski (PL) disse que os manifestantes encurralaram autoridades e que, por isso, “temos que enfrentar essa ideologia dentro das nossas universidades com muita força”. Já a vereadora Sargento Tania Guerreiro (Pode) disse que “baderneiro tem mesmo é que ser contido pela PMPR”, antecipando a opinião de Da Costa (União), para quem “a PMPR agiu de forma impecável” e que “se está fazendo baderna […] a polícia tem que sentar a borracha mesmo”.
Olimpio Araujo Junior (PL) e a vereadora Delegada Tathiana Guzella (União) acusaram de hipocrisia quem recrimina a ação da PMPR na UFPR, mas, ao ser vítima de crime, procurar a corporação por socorro. Sobre a nota da UFPR, Marcial disse que ela deveria ter citado o público que foi à universidade para ver a palestra e foi agredido. “Eu nunca tinha olhado nos olhos de outra pessoa com desejo de extermínio e morte. Foi a primeira vez que vivi essa experiência e espero nunca mais passar por algo assim”, relatou o vereador do Novo.
Giorgia Prates critica uso político do episódio: “espetáculo para redes sociais”
Na avaliação da vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta (PT), o episódio na UFPR foi transformado em palco de disputa eleitoral. Ela apontou que a condução da crise serviu mais à autopromoção política do que à proteção da comunidade acadêmica. Para a vereadora, o confronto poderia ter sido evitado se tivesse prevalecido o diálogo, já que a universidade havia tomado a “decisão soberana” de cancelar a atividade para resguardar a segurança de estudantes e professores. Nesse sentido, a parlamentar acusou vereadores de transformarem a tensão em “espetáculo para redes sociais”.

Giorgia Prates também questionou a forma como a Polícia Militar foi inserida no episódio. Segundo ela, a corporação, que deveria ser respeitada pela função de segurança pública, acabou “usada como massa de manobra de uma situação eleitoreira”. Prates ressaltou que “todo extremismo é prejudicial à sociedade” e que “[o extremismo] não serve de nada, a não ser para provocar exatamente aquilo que vimos: confusão”. A parlamentar destacou que a radicalização não protege a cidade nem fortalece a democracia, mas apenas alimenta disputas de narrativa.
As falas da vereadora foram feitas em um segundo momento de discussão do ocorrido na UFPR, quando a Câmara já discutia a moção de protesto “contra os atos violentos dos militantes de extrema-esquerda que impediram a palestra” (413.00030.2025), apresentada por Kilter. A moção de apoio à PMPR foi aprovada em votação simbólica, com cinco votos contrários, que não são identificados, porque nesse tipo de contagem não é utilizado o painel eletrônico. Na semana que vem, a moção de protesto volta a ser debatida na segunda-feira (22).
UFPR diz que consultará a CMC sobre ação da PMPR
A Universidade Federal do Paraná e a Direção do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR divulgaram uma nota pública após o ocorrido. Nela, as autoridades acadêmicas afirmam que a ação da Polícia Militar no Prédio Histórico se deu “sem pedido” institucional e “com uso de força desproporcional”. A universidade informou que notificou o Comando da PMPR, a Defensoria Pública, a OAB-PR, o Conselho Permanente de Direitos Humanos do Paraná, o Ministério Público Estadual e Federal, além da Prefeitura de Curitiba e do Governo do Estado, para acompanhar a apuração dos fatos.
A nota também registra notificação à própria Câmara de Curitiba, a fim de esclarecer eventual solicitação de presença policial por parte da instituição ou de seus membros. No documento público, a UFPR ressaltou que adotará as medidas administrativas, legais e judiciais cabíveis para assegurar a proteção de sua comunidade e a preservação de sua autonomia universitária. A nota oficial da UFPR foi publicada no portal da universidade na internet.
*Notícia revisada pelo estudante de Letras Celso Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques