O advogado Jeffrey Chiquini, que representa Filipe Martins, e o vereador de Curitiba Guilherme Kilter (Novo-PR) foram expulsos na noite desta terça-feira (9) do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) por estudantes que se opunham à participação dos dois em uma palestra sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em meio a empurrões e gritos de “recua, fascista”, Chiquini e Kilter foram escoltados até a sala dos professores por segurança. A Polícia Militar foi chamada para conter a confusão no prédio histórico da UFPR, localizado no centro da capital paranaense.
O vereador disse à Gazeta do Povo que sofreu agressões leves como tapas e empurrões. Kilter afirmou que os estudantes já tinham ocupado o prédio quando ele e Chiquini chegaram, impedindo a entrada no Salão Nobre, onde o evento seria realizado.
“Fomos até o corredor, mas começaram a nos ameaçar com porretes. Nos trancaram na sala dos professores por segurança. A gente esperou baixar o clima, a Polícia Militar chegou com reforço da tropa de choque e começou a esvaziar o prédio”, relatou Kilter.
O vereador e o advogado tentaram encontrar uma saída para deixar o prédio e foram seguidos pelos manifestantes. “A gente conseguiu sair pelos fundos. A tropa de choque já estava na frente, fazendo um cerco. Teve bomba de efeito moral”, disse o parlamentar. Para Kilter, “claramente” parte dos manifestantes não eram alunos da instituição.
“Fui expulso da UFPR, porque vim palestrar em um evento. Fui convidado a palestrar sobre Estado Democrático de Direito pelo curso de Direito. Eu apanhei de tudo quanto é lado. Estou sendo expulso por cerca de 500 pessoas”, disse Chiquini em uma live no Instagram.
Chiquini rebateu os xingamentos dos manifestantes. “Brasil não é de vocês, comunistas. Vocês viraram marionete de um sistema corrupto. Seus bandidos”, disse o advogado. O evento foi cancelado após a confusão.
A advogada e comentarista política da Gazeta do Povo, Anne Dias, iria acompanhar a palestra e presenciou a confusão. Ex-aluna da UFPR, ela afirmou que os manifestantes hostilizaram os participantes do evento.
“Foi horrível. Uma pessoa me relatou que teve o celular furtado durante a manifestação. Bateram nas pessoas, derrubaram um professor. Fomos totalmente hostilizados, chamados de fascistas”, disse Anne.
A advogada destacou que a PM registrou os boletins de ocorrência do furto e das agressões. Ela lamentou que a palestra para debater a atuação do STF não tenha ocorrido. “Não conseguimos fazer o evento. É um grande absurdo, uma universidade pública, de direito. Era só um evento para discutir o Supremo Tribunal Federal”, ressaltou.
O também vereador Rodrigo Marcial (Novo) tinha sido convidado para mediar o evento na UFPR e contou ter sido agredido a “socos e pontapés, com tentativas de furtos” enquanto tentava liberar a passagem para que Chiquini e Kilter deixassem o prédio.
Marcial apontou que a instituição deveria ser um espaço de diálogo, mas “se transformou em um cenário de violência e intimidação, impedindo o exercício da liberdade de expressão e da convivência democrática”.
“As federais estão completamente sequestradas pela militância de esquerda. Na minha época já era assim, mas hoje piorou muito. É muito triste saber que nossos impostos estão financiando isso”, criticou o parlamentar.
UFPR critica “resposta desproporcional” da PM durante a confusão
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) criticou o que classificou como uma “resposta desproporcional” das forças de segurança para conter os manifestantes. Em nota, a instituição afirmou que o evento “O STF e a interpretação constitucional” foi organizado “por uma professora do curso de Direito que tem autonomia para a promoção da atividade”.
“Contudo, conforme vídeos, um grupo com os palestrantes forçou a entrada, empurrando o Vice-diretor do Setor, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestava”, diz um trecho do comunicado.
De acordo com a UFPR, o evento “gerou questionamentos e manifestações contrárias, segundo as quais sua ocorrência iria contra a defesa da soberania nacional e do estado democrático de direito”. Veja abaixo íntegra da nota divulgada pela universidade:
“A Direção do Setor de Ciências Jurídicas e a Reitoria da Universidade Federal do Paraná informam que o evento previsto para ocorrer no Salão Nobre, nesta data, foi cancelado pela docente organizadora minutos antes de sua realização.
Contudo, conforme vídeos, um grupo com os palestrantes forçou a entrada, empurrando o Vice-diretor do Setor, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestava.
O evento foi organizado por uma professora do curso de Direito que tem autonomia para a promoção da atividade.
Diante da repercussão nas redes sociais semanas antes do evento, a Direção do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR alertou a professora responsável quanto aos riscos à integridade física da comunidade acadêmica e participantes.
A autorização para uso dos espaços da universidade, quando atendidos os requisitos formais, é concedida de forma isonômica aos solicitantes.
A UFPR, enquanto instituição pública e plural, tem compromisso com a defesa do Estado Democrático de Direito, liberdade de expressão e condena toda forma de violência”.
A Gazeta do Povo procurou Jeffrey Chiquini para comentar sobre o episódio, mas ainda não teve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.